sábado, 6 de agosto de 2016

P814: HISTÓRIAS CURTAS DAS TERMAS DE MONTE REAL - 3

VIROU-SE O FEITIÇO CONTRA O FEITICEIRO…

Nos anos 60/70 costumava vir para o Hotel um Senhor Doutor, homem de bom trato, mas “esfusiante”, nervoso, que falava alto e dava nas vistas.

Era bastante mais velho do que eu e tinha por costume, infelizmente, vir por detrás de mim e dar-me uma palmada nas costas, que ele julgava “meiga” mas que afinal tinha força demasiada e chegava a magoar.

Avisei-o várias vezes para não repetir tal “cumprimento”, o que nunca surtiu efeito até ao dia em que respondi na “mesma moeda”. Terminaram nesse momento, finalmente, as palmadas nas minhas costas.

Mas o referido senhor, tinha a convicção, ou pelo menos apregoava aos “sete ventos” tal condição, de ser um conhecedor e praticante das artes marciais, vulgo Karate.

Nesse tempo no Hotel trabalhava então um rapaz dos seus 14/15 anos como “groom” (como à época se dizia), já “bem espigado”, e que longe de ser tímido e reservado, sendo respeitador, não deixava de ter a sua personalidade, como se costuma dizer.

As suas funções, para além de ir buscar os jornais, ir ao correio, fazer recados, etc., eram também as de abrir as portas de vai-vem que davam acesso ao corredor que levava à Sala de Jantar, e as portas da referida sala, à hora das refeições.

Ora um dia, por volta das 12H30, hora a que se abria a sala para os almoços (mês de Agosto, Sala de Jantar cheia), o Senhor Doutor ao entrar na sala, e quando o "groom" lhe abria a porta, fez menção, na brincadeira, de executar um “pontapé de Karate” dirigido ao rapaz.

Apanhado de surpresa, o rapaz agarrou-lhe a perna, tendo o Senhor Doutor ficado estendido ao comprido no meio das mesas da Sala de Jantar, para gáudio e risota dos restantes hóspedes.

Teve o senhor o bom senso de não apresentar nenhuma reclamação, foram apresentadas as desculpas necessárias e, pelo menos no Hotel, pararam as “bravatas” sobre os seus dotes de “karateca”.

                       Joaquim Mexia Alves