sexta-feira, 25 de março de 2016

P775: DO MANUEL MAIA - 15

PESCARIA

O sol tinge-me a pele, qual magrebino,
e aquece o oceano em desatino
que mau grado Atlântico, é diferente...
A água/caldo aguça o apetite,
o mar assume assim formal convite,
p’ra agradável mergulho a toda a gente...

Mau grado Outono, diz o calendário,
Setembro vinte e seis p’ra meu fadário
é dia de abrasar, completamente...
Soprado lá da África do Norte
chegado aqui à ilha ‘inda bem forte
o vento é insuportável de "caliente"...

Está sita Las Galletas, mui bem perto
da praia das Américas, decerto
da ilha o foco mor do grã- turismo...
A vida sã e simples bem d’outrora
na vila piscatória ‘inda cá mora
sossego em Las Galletas, é exotismo...

Eu tenho uma "paixão assolapada"
por Las Galletas, terra abençoada
p’los deuses dada aos guanche bem d'outrora
"Pueblo" piscatório, acolhe bem
quem chega e de bem longe p’ra cá vem
pensando num retorno sem demora...

Amanhã, sexta às nove, irei pescar
de barco, lá bem longe em alto mar,
na estreia espero a sorte benfazeja...
Vai ser, por certo, manhã agradável
fruir do sol, do mar, do ar saudável
que a primavera eterna, ilha bafeja...

Chega dia da pesca aprazada
estou sem dormir é alta madrugada
baptismo em pescaria é a razão...
Já sonho com cardumes de "bonitos",
(atuns de menos peso do que os ditos...)
com seis ou sete quilos, centos não...

Vi centos de baleias convivendo
em trios e sextetos se movendo,
saudando o predador que foi d´outrora...
Mergulho e aquífera aspersão
espectáculo que os cetáceos ora dão
ao transformado protector de agora...

À guisa de troféu, trouxe p’ra casa
uns "peixes galo" para assar na brasa
dono do barco fez a gentileza...
Na caixa/aquário foi metido
"pescado" que assim vivo foi trazido
directamente para a minha mesa...

A grossa pele mantém o peixe inteiro,
da prancha exala um agradável cheiro
que o sal, limão e piri haviam dado...
A "papa canária" era de estalo
e a pinga que escorria foi "regalo"
rosé "Sangre del Toro", bem gelado...


Manuel Maia           

segunda-feira, 21 de março de 2016

P774: AVENTURA ATRIBULADA COM FINAL FELIZ...

Como alcobacense de gema, o nosso camarigo JERO traz-nos hoje uma história de um herói da sua terra envolvido numa aventura que, não tendo sido totalmente concretizada, até teve um final feliz…

OS HERÓICOS MALUCOS DAS
MÁQUINAS VOADORAS

A partida para a travessia entre Portugal e Nova Iorque estava agendada para 13 de setembro de 1931, junto a Vila Franca de Xira. Acompanhado dos alemães Wily Rody e Christian Johansen, o jovem Fernando Costa Veiga, de apenas 22 anos, assumiu o leme do avião, apostando numa viagem aérea baseada essencialmente na bússola.

O trio de pilotos percorreu mais de 7 mil quilómetros, mas um violento temporal e a paragem do único motor da aeronave fez terminar o sonho de forma abrupta. Tinham passado 24 horas e 21 minutos da descolagem em solo português.

A tripulação foi obrigada a amarar em pleno oceano, quando estavam “apenas” a 150 quilómetros do continente americano. Seguiu-se uma autêntica odisseia que confirma que a resistência humana (quase) não tem limites. Mas que foi uma autêntica tortura para os três amigos... foi. 

Segundo a página “Voa Portugal - O Portal da Aviação Portuguesa”, o avião ficou sobre as “ondas alterosas de um oceano enfurecido, mais precisamente nas coordenadas 45º N e 54º W”. 
Os três aventureiros viveram dias difíceis – muito difíceis -  uma vez que não tinham alimentos nem água potável.

Costa Veiga, Rody e Johansen foram recolhidos após uma semana no mar, mais concretamente 158 horas após o naufrágio, pela embarcação norueguesa “Belmoira”, que os acolheu. Os aviadores seguiram viagem para a Rússia, que era o destino do “Belmoira”.

O caso foi seguido com grande atenção pela imprensa portuguesa, enquanto a família aguardava por boas notícias. A mãe de Fernando Costa Veiga recebeu um telegrama, segundo se pode ler nas páginas do “Diário de Lisboa” de 22 de setembro de 1931, das mãos “do boletineiro Armando Tavares”, que dizia: “Depois de flutuarmos ao sabor das ondas durante 158 horas, fomos recolhidos pelo barco Belmoira, da praça de Oslo. Estamos todos bem”.

A pedido da mãe de Costa Veiga, o ministro dos Negócios Estrangeiros telegrafou ao ministro em Berlim pedindo-lhe para “transmitir as notícias às famílias de Wily Rody e Christian Johansen ” e ao ministro nos Estados Unidos para comunicar tudo o que soubesse sobre os tripulantes do ESA.

Segundo o “Correio da Manhã” de quinta-feira, 15 de outubro de 1931, o acto heróico de Costa Veiga e seus pares ressuscitara “as virtudes da raça lusitana”. O jornal fala de um “feito de relevo, digno de igualar-se às proezas dos grandes ‘ases’ da aviação”. “O círculo da sorte afastou-se na última rodada, porque o grande pássaro de metal fora visto a voar a cerca de 400 milhas de Nova Iorque.

“O ESA, obrigado a fugir a uma espera traiçoeira que a tempestade lhe fizera no caminho da sua rota para a grande cidade, tivera que descer em pleno Atlântico, lutando durante oito dias e 14 horas contra as vagas alterosas, contra a procella e contra a morte”, pode ler-se na reportagem publicada pelo periódico.

Fernando Costa Veiga nunca duvidou do êxito da epopeia, tendo assegurado aos familiares que não pereceria na viagem. “Vão ver que não morro. E, se morrer, isso que tem? Não temos de morrer todos?”, dizia na imprensa da época o futuro engenheiro eletrotécnico, que durante os dias em que esteve à deriva se alimentou, juntamente com os dois germânicos, de... peixe cru.

Fernando Costa Veiga tinha tirado a licença de voo na cidade alemã de Leipzig a 11 de julho de 1931, ou seja, apenas dois meses antes de se meter numa aventura tamanha. A sua falta de experiência de voo foi apontada como uma das causas para o insucesso da travessia, mas o seu estatuto de herói permanece inalterado.

Depois de terminar o curso de engenharia eletrotécnica, este alcobacense de adoção foi o responsável pela presença em Portugal da Citroen, marca à qual esteve ligado durante muitos anos. E nunca deixou de visitar a nossa região. O pai e o avô eram naturais de Alcobaça e detiveram, durante décadas, o palacete Costa Veiga, na Rua de Baixo.

Comprova-se a relação de Fernando Costa Veiga com a nossa região voltando à notícia do “Diário de Lisboa”, que termina com o seguinte parágrafo: “A família do bravo rapaz, que parte amanhã para a Nazaré, pede-nos que sejamos intérpretes da sua gratidão junto de todas as pessoas que se interessaram pela sorte do seu filho”.

Costa Veiga faleceu em 1993, com 84 anos. Pode não ter conseguido completar a travessia do Atlântico Norte, mas ganhou um lugar na história da aviação.

Hoje em dia, a viagem entre Lisboa e Nova Iorque faz-se em sete horas. Mas não tem, certamente, a mesma emoção de outros tempos…

JERO


quarta-feira, 9 de março de 2016

P771: BAÚ DE RECORDAÇÕES DO JOSÉ BELO

Condoído com as “condições agrestes” que defontámos no nosso último convívio, o nosso camarigo José Belo decidiu lembrar-nos que há sempre quem passe mais do que nós e enviou-nos cópia do convite difundido quando da inauguração da “sua” Tabanca da Lapónia.

Sabendo que futuramente ele planeia manter-se mais tempo nos States do que até agora, prevemos que a Tabanca da Lapónia tenha os seus dias contados. Mas há sempre a esperança que seja inaugurada a Tabanca de Key West, com fartos motivos de divulgação…

Aqui ficam as suas palavras de introdução:

Caros amigos

Limpando a parte "cibernética" das minhas memórias encontrei um convite por mim enviado aos Camaradas e Amigos da Guiné aquando da inauguração - já há bem largos anos - da Tabanca da Lapónia.
Depois de ter lido a descrição do último encontro dos Amigos do Centro e visto as fotos, envio o texto do convite que talvez seja apropriado para a revista Karas...

Um abraço
José Belo


Encontro das Amigas, Amigos e Camaradas do
Farol da Cultura Lusitana nas escuridões Árticas
que é...
 A TABANCA DA LAPÓNIA



As cerimónias serão em fins do próximo mês, altura em que por aqui já existe hora e meia de luz diária.
Estão todos obviamente convidados assim como familiares e amigos.

Sem querer fazer humor fácil quanto ao Círculo Polar e à Lapónia Sueca... a ementa consta de um jantar frio (!):


Carnes de rena, alce, urso, foca, perdiz da neve; salmão, arenque e truta.
E, para calar os mais "reguilas", bacalhau do alto, do bom, do norueguês, pescado ao largo do porto de Narvik, a pouco mais de uma centena e meia de quilómetros daqui.

Os preços (proibitivos em tais quantidades) do vinho aqui na zona levam a que tanto os aperitivos, o acompanhante da refeição e os digestivos sejam a boa e forte vodka local, bebida à maneira cá da terra, ou seja, por copos de água, de um só trago, e principalmente em ritmo... acelerado.

Se me desculparem mais uma pertinência, gostaria de lembrar alguns pormenores aos interessados na jantarada e convívio.

Como têm estado "só" cerca de 40 graus negativos durante as noites, e depois de ter observado algumas fotografias dos últimos encontros da Tabanca do Centro, verifiquei que as "calvas aristocráticas" abundam.

Recomendo que não esqueçam de se fazer acompanhar de um dos nossos típicos barretes.

Não tem importância se da Nazaré, de Campino ou Saloio, contanto que seja... quente! E, p'ra mais vamos fazer uma inveja aos lapões!)

Não enviem as confirmações das vossas presenças ao jantar por meio de pombos correios.

Ao aterrar já seriam franguinhos congelados!

Aos Camaradas que fumam (Por amor de Deus!) não queiram ser simpáticos para com os não fumadores e não se ponham a... abrir as janelas…

Tendo em conta as idades "bíblicas" que a maioria de nós já vamos tendo, os que quiserem "aliviar águas" durante o longo banquete não esqueçam que não estão na Lusitânia (o que nem sempre é fácil depois do vodka a 96% bebido por copos de água!), indo "fazê-lo" por detrás de uma pedra de... gelo.

Os 40 graus negativos costumam pregar partidas nestas situações o facto de a urina estar já congelada antes de chegar ao solo, é a menor (!) entre elas.

Bem vindos ao nosso convívio e à Lapónia Sueca!

José Belo