quinta-feira, 22 de setembro de 2016

P821: JOSÉ BELO - CARTA DA LAPÓNIA

NO MINNESOTA, UMA ESPÉCIE DE SUÉCIA?...

Carta enviada da Lapónia pelo nosso camarigo José Belo, um luso-lapão completamente assuecado que divide o seu tempo por Kiruna (Lapónia), Key West (Flórida) e mais alguns sítios nos States… O Zé Belo tem familiares a viver no Estado do Minnesota e há tempos referiu-nos a peculiaridade da existência de uma comunidade oriunda da Suécia que ali vive, mas mantendo  muitos dos usos e costumes do país de origem. Desafiado para nos falar sobre esta matéria, aqui nos deixa este texto.

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Na Suécia usam frequentemente o termo "Lappsjuk" para, com alguma ironia, descrever o que acontece no espírito dos que vivem muitos anos mergulhados literalmente nesta natureza esmagadora e total isolamento.

Costuma dizer-se que o problema surge, não quando se "fala com as árvores", mas sim quando as árvores... respondem!  De qualquer modo, por aqui já a neve está alta, e há que ultimar toda uma vasta logística para enfrentar o Inverno com conforto.

Quanto á sugestão que me foi feita de escrever um artigo sobre os Suecos em Minnesota (nos Estados Unidos da América) aqui estão algumas linhas sobre um assunto por aí totalmente desconhecido mas muito importante na Suécia e com bastante protagonismo no "folclore histórico" dos States, sempre muito impressionados com os seus Vikings.


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Um período de temperaturas negativas muito abaixo do normal (mesmo para a Suécia!), seguido de uma Primavera e Verão com chuvas contínuas, provocou em 1850 na zona centro-sul do país uma verdadeira catástrofe alimentar.

Os habitantes desta Província (Småland), então dependentes de uma agricultura pouco variada nos seus produtos, sofreram profundamente com esta crise.

Na Escandinávia da época tinha começado a generalizar-se o conhecimento quanto às oportunidades oferecidas pela América, nos seus espaços ilimitados, para quem soubesse trabalhar a terra. Uns largos milhares de suecos partiram então para a aventura pela sobrevivência.

Em mais um "detalhe" importante nas diferenciações entre os europeus do norte e do sul, surgem dois tipos de emigração para a América do Norte.

Isto, independentemente de a mesma ser provocada pela miséria e fome, pela busca de liberdades cívicas e religiosas, ou pelas oportunidades de negócio.

Enquanto muitos dos emigrantes do sul partiam individualmente (na maioria homens) ou, em alguns casos, em grupos familiares restritos, a emigração norte-europeia, escandinava e alemã (esta em números vastíssimos), caracterizou-se durante longo período pela deslocação de aldeias completas, ou grupos de aldeias geograficamente vizinhas, desde pequenas comunidades a vilas de tamanhos e populações muito razoáveis.

Todo o tecido social envolvente transplantava-se intacto (!) para a nova terra e a "aldeia" fixava-se no novo mundo com todas as suas diferentes classes sociais de habitantes e profissões próprias de uma sociedade rural.

Do Pastor Protestante, à professora, ao ferreiro, boticário, etc, etc, etc.

Este tipo de ocupação das novas áreas cria condições ideais (muito ao contrário do outro tipo de emigração, de assimilação mais fácil), para continuidades rácicas, de tradições e costumes e, não menos, de linguagem e dialectos originais.

Foi o que acabou por acontecer em vastas áreas do actual Estado Norte Americano do Minnesota.

Curiosamente, tendo tido oportunidades de se estabelecerem em todo o infindável país, e em zonas climatéricas muito mais agradáveis do que as existentes na Escandinávia, os suecos vieram a escolher uma das zonas mais frias, geladas, e então bem isolada, situada junto à actual fronteira com o Canadá.

Lago Itasca, onde começa o Mississipi
Obviamente que quem conhece a Escandinávia compreende de imediato o "sentimentalismo" da escolha.

A natureza do Minnesota mais não é, nas suas montanhas, milhares de lagos, e infindáveis florestas, que uma fotocópia da natureza sueca, muito particularmente da Província da Småland de onde a maioria dos emigrantes era originária.

A influência sueca continua hoje bem viva, tanto nas Universidades como nas diferentes instituições culturais, sociais e económicas, muitas delas generosamente apoiadas pela Suécia.

Numa visita ao Minnesota, quem siga a "highway-8" com passagem pela cidade de Lindström (conhecida localmente como a Pequena Suécia) sente ao atravessar aldeias e vilas, nos seus largos, mercados, estátuas, monumentos, quintas, restaurantes e bares, que está algures na Suécia.

Para mais quando, em muitas das vezes, se ouve em alguns dos locais dialecto sueco da zona da Småland vindo de séculos passados.

Aos lusitanos apreciadores de boa cerveja recomenda-se uma visita ao Estado. Produzida com receitas locais e em umas muito largas centenas de centrais, isto numa população que não atinge os seis milhões de habitantes…

Tendo também uma grande produção e variedade de boas maçãs, a cidra do Minnesota (de diferentes teores alcoólicos) também é um produto famoso em todos os States.

O vinho também é produzido e, com um bocado de "boa vontade”, faz lembrar o vinho verde tinto…

MAS… para este lusitano-lapão (único!!!)... faltam as renas!

Deve-se chamar atenção para o facto de dentro de um país, na sua vastidão geográfica e diferenciações culturais, como os Estados Unidos, existirem mais "distâncias" culturais e tradicionais entre a Flórida e o Minnesota, do que, por exemplo, entre a actual Albufeira (ou mesmo Lagos) e... o Key West (Flórida) onde passo parte do ano.

Um abraço do

José Belo

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei de ler a descrição que nos ofereceu o amigo José Belo, sobre a implantação dos Suecos nos USA.

Envio um abraço.

M. Arminda