segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

P746: OUTROS NATAIS...

O nosso camarada Zé Belo enviou-nos lá dos confins da Lapónia um link para um texto publicado em http://www.whychristmas.com/customs/hanukkah.shtml, que nos dá a conhecer o Hanukkah, um evento judeu que ocorre em datas próximas das do nosso tradicional Natal. O texto está em inglês e tivemos a iniciativa de o traduzir. Esperamos que a versão portuguesa não fuja muito à mensagem original…

HANUKKAH – O FESTIVAL JUDAICO DE LUZES

Hanukkah é o Festival das luzes judaica, e recorda a rededicação a Deus do segundo templo judeu em Jerusalém. Isto aconteceu nos 160s A.C. (antes do nascimento de Jesus). Hanukkah é a palavra judia para dedicação.

O Hanukkah dura oito dias e começa no dia 25 de Kislev, o mês do calendário judaico que ocorre quase simultaneamente com o mês de dezembro. Porque o calendário judaico é lunar (ele usa a lua nas suas datas), o Kislev pode acontecer desde final de novembro até ao final de dezembro.

Em 2015 o Hanukkah vai da noite de domingo, 6 de dezembro, até à noite de segunda-feira, 14 de dezembro. Já em 2016 o Hanukkah será a partir na noite de sábado, 24 de dezembro até à noite de domingo, 1º de Janeiro.

Durante o Hanukkah, em cada uma das oito noites, uma vela é acesa num menorah (candelabro) especial chamado “hanukkiyah”. Há uma nona vela especial chamada a vela shammash ou serva, que é usada para acender as outras velas. A shammash está normalmente no centro das outras velas, numa posição mais elevada. 

Na primeira noite uma vela é acesa, na segunda noite serão duas, até que todas estão acesas na oitava e última noite do festival. Tradicionalmente as velas são acesas da esquerda para a direita. Uma bênção especial, agradecendo a Deus, é dita antes ou depois de acender as velas e um hino judaico especial é habitualmente cantado. 

O candelabro é colocado na janela da frente das casas para que as pessoas que passam ver as luzes e relembrar a história do Hanukkah. Muitas famílias judias têm uma menorah especial e celebram o Hanukkah.

O Hanukkah é também um tempo para dar e receber presentes, muitas vezes dados em cada uma das noites. Muitos jogos são jogados durante a época do Hanukkah. O mais popular é o pião (iídiche) ou sivivon (Hebraico). Tem  quatro lados com uma letra Hebraica em cada lado. As quatro letras são as primeiras letras da frase “Nes Gadol Hayah Sham”, que significa “Um grande Hayah (milagre) aconteceu lá“. Em Israel o “lá” mudou para “aqui”, por isso diz-se “Nes Gadol Hayah Po”.

O jogador coloca uma peça (moeda, noz ou moeda de chocolate) num pote e o pião é girado. Se surgir a letra “nun” (נ) nada acontece, se for “gímel” (ג) o jogador ganha o conteúdo do pote, se for “hay”(ה) ganha metade do pote e se for “shin” (para “lá” ש) ou “pe” (para “aqui” פ) tem que colocar outra peça no pote e passa a vez à próxima pessoa.

Alimentos fritos em óleo são tradicionalmente consumidos durante o Hanukkah. Os favoritos são “latkes” (panquecas de batata) e “sufganiyot” (donuts fritos)  que são  enchidos com compotas/geleias e polvilhados com açúcar.

A HISTÓRIA POR TRÁS DO HANUKKAH

Cerca de 200 A.C., Israel era um estado no Império Selêucida (um Império governado sob a lei grega) e sob as ordens do rei da Síria. No entanto, eles podiam seguir a sua religião e suas práticas. Em 171 A.C. surgiu um novo rei chamado Antiochus IV, que também se intitulava  “Antiochus Epíphanes”, que significa “Antiochus o Deus visível”. Antiochus  queria que todo o Império seguisse  o modo de vida grego e a religião grega, com todos os seus deuses. Alguns dos judeus queriam ser mais gregos, mas a maioria queria permanecer judeu.

O irmão do sumo sacerdote judeu queria ser mais grego, então ele subornou Antiochus para que fosse ele o novo sumo sacerdote em vez do seu irmão, o qual foi morto! Três anos mais tarde outro homem subornou Antiochus ainda mais para se tornar o sumo sacerdote! Para pagar o suborno, roubou alguns dos objetos de ouro que eram usados no templo judeu.

A caminho de casa, depois de se retirar de uma batalha, Antiochus parou em Jerusalém e descarregou toda a sua raiva sobre a cidade e sobre o povo judeu. Ele ordenou que as casas fossem queimadas, e dezenas de milhares de judeus foram mortos ou tornados escravos. 

Antíochus passou então a atacar o Templo judaico, o edifício mais importante em  Israel para os judeus. Os soldados sírios levaram todos os tesouros do Templo e no 15 de Kislev 168 AC Antíochus colocou uma estátua do Deus grego Zeus no centro do Templo judeu (mas tinha o rosto de Antíoco!). Em seguida, no 25 de Kislev ele profanou o lugar mais sagrado no templo e destruiu os pergaminhos sagrados judaicos.

Antiochus proibiu então a prática da fé e religião judaica (se fossem descobertos eram mortos com toda a família) e transformou o templo num santuário para Zeus. Houve muitos judeus mortos por sua fé. Em breve se iniciou uma rebelião judaica.

Tudo começou quando um antigo sacerdote judeu, chamado Mattathias, foi forçado a fazer uma oferenda a Zeus em sua aldeia. Ele recusou-se a fazê-lo e matou um soldado Sírio! Os filhos de Mattathias juntaram-se a ele e mataram os outros soldados na aldeia. Mattathias era um homem velho e morreu pouco depois deste acontecimento, mas o seu filho Judah assumiu então o comando dos combatentes da liberdade. Judah era apelidado de “Maccabee” , que vem da palavra hebraica para “martelo”. Ele e suas tropas refugiaram-se em cavernas e mantiveram uma guerra clandestina durante três anos. Defrontaram então os sírios em campo aberto e derrotaram-nos.

Quando regressaram a Jerusalém o templo estava em ruínas, ainda ali se mantendo a estátua de Zeus/Antiochus. Limparam então o Templo, reconstruiram o altar judeu e no 25 de Kislev 165AC, exactamente três anos depois dos primeiros acontecimentos, o altar e o Templo foram novamente dedicados a Deus.

Há várias teorias sobre a razão de o Hanukkah ser celebrado durante oito noites. Uma lenda diz que quando Judah e os seus seguidores chegaram ao Templo havia apenas óleo suficiente para queimar por uma noite, mas que ardeu durante oito noites. Outra história diz que eles encontraram oito lanças de ferro e, colocando-lhe velas, usaram-nas para iluminar o templo.

O HANUKKAH E O NATAL


As datas do Hanukkah e do Natal estão associadas pois o 25 de Kislev foi a data em que o Templo foi novamente dedicado a Deus e a nova Igreja escolheu o 25 de Dezembro pois assumiu o aniversário do deus grego Zeus e do deus romano Júpiter.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

P745: ARREPENDIMENTO

CONTO DE NATAL

No frio da sua cela, só e sem alento, sentado na enxerga com a cabeça entre as mãos, pela milionésima vez pensava em tudo o que o tinha trazido até ali, àquela prisão que lhe retirava os anos jovens da sua vida.

Algumas más companhias, o álcool, os “charros”, a falta de encontrar interesses na vida que não fossem os imediatos, os prazeres rápidos e fortuitos, e aquela noite, aquela terrível noite que o tinha mandado directamente para a prisão.

E mais uma vez lhe veio a ideia, uma quase obsessão de fazer para o tempo, de recuar aos primeiros minutos daquela noite e fazer tudo diferente. Sobretudo parar o tempo antes daquele encontrão, que levou aos insultos e que num ápice lhe colocou aquela navalha na mão, que sem qualquer verdadeira razão, tinha espetado violentamente na barriga do outro jovem.

Ah! Pudesse parar ali e ter oportunidade de dizer qualquer coisa como, desculpa, foi sem querer, e seguir caminho na noite.

Agora pensava assim, mas nos tempos que se seguiram a essa noite, durante o julgamento, e nos primeiros anos preso, uma raiva surda, um rancor, um quase ódio, tinham tomado conta dele. Afinal o culpado era o outro, que em vez de se afastar, em vez de ter percebido que o encontrão tinha sido sem querer, se “pôs a mandar vir” com ele, e por isso mesmo ele lhe tinha espetado a navalha na barriga. Morreu, mas a culpa era dele!

Mas os anos de prisão tinham-no amaciado. O sentir a vida tão jovem ainda, correr-lhe por entre os dedos, ali aprisionada, vivendo sem qualquer sentido, colocavam-no perante a realidade de perceber que afinal a culpa tinha sido dele e que o outro apenas tinha reagido como os jovens normalmente reagem. Era um arrependimento que pouco a pouco ia tomando conta do seu coração e curiosamente isso dava-lhe uma sensação de paz e de alívio.

Tinha havido uma audiência, (ou lá o que era), para analisar a sua possível libertação condicional, mas ele nada esperava, porque o seu comportamento anterior no julgamento, e durante os primeiros tempos na cadeia, não augurava nada de bom.

Era dia de Natal, (o que a ele dizia muito pouco ou nada), mas lembrava-se de uma ou duas conversas que tinha tido com o padre da prisão, que lhe tinha explicado de modo muito simples a história de Jesus Cristo, que tinha nascido no Natal e era Filho de Deus, segundo o padre, claro, e que tinha vindo para nos salvar com o seu sacrifício de amor.

Mal não fazia, pensou ele, e, ajoelhando-se no chão da cela, olhou para o Céu e disse: Não sei quem és e se estás aí, ou aqui, mas se me amas e se podes, ajuda-me como quiseres para que não perca totalmente a minha vida.
Levantou-se sem qualquer esperança de ser atendido no seu pedido e nesse momento um guarda chamou-o dizendo que tinha uma visita. Ficou admirado pois não esperava ninguém, mas seguiu o guarda até à sala de visitas dos presos.

Ficou ainda mais admirado e receoso quando viu que a visita afinal eram uma mulher e um homem, nos quais ele reconheceu os pais do rapaz que ele tinha morto naquela fatídica noite.

Não sabia o que fazer, mas o olhar que lhe lançaram e o aceno das mãos pedindo que fosse ter com eles, deram-lhe a necessária segurança para se aproximar, de cabeça baixa, envergonhado.

Não tinha sido nada fácil no julgamento senti-los a olhar para ele com um olhar duro que o trespassava. Mas não era esse o olhar que agora lhe devolviam.

“Estás com certeza admirado de nos ver aqui?” Ouviu ele dizer àqueles pais magoados e tristes.
Com uma voz quase inaudível respondeu: “Sim!”
Eles falaram novamente: “Sabes, temos sabido da tua vida na prisão e sabemos que ultimamente te tens comportado muito bem e que até tens falado com o capelão da prisão.”
“É verdade”, respondeu ele timidamente. “Quero acreditar, mas é muito complicado, depois daquilo que fiz.”

Eles disseram-lhe: “Sabes, nós somos católicos acreditamos em Deus e no seu amor infinito e acreditamos também no seu perdão.”

Olhou para eles admirado e eles continuaram: “Sabes, também que houve uma reunião para decidir a tua liberdade condicional. Nós quisemos estar presente e como nos ensinou Jesus Cristo, quisemos dizer ao juiz e às pessoas que lá estavam que te perdoávamos sinceramente e mais ainda, que tendo sabido do que se passava na prisão contigo, pedimos que te fosse concedida a liberdade condicional.”

Levantou a cabeça, olhou para eles, os olhos encheram-se de lágrimas e não soube o que dizer.

Mas eles acrescentaram: “Nós pedimos e foi-nos concedido que fossemos nós a trazer-te a notícia. Sais hoje em liberdade condicional e esse é o melhor perdão que te podemos dar. Quando saíres daqui do pé de nós, podes ir fazer o teu saco, pois hoje mesmo vais passar o Natal a tua casa.”

Ia dizer qualquer coisa, como obrigado, (sabia lá ele bem o que dizer naquela altura), mas eles interromperam-no e disseram-lhe: “Teremos depois tempo para falar, mas para já agora o que deves fazer é acreditar, verdadeiramente acreditar, que neste Natal, Jesus Cristo nasceu para te salvar.”

Joaquim Mexia Alves
Marinha Grande, Dezembro de 2015



quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

P744: UM EPISÓDIO DE GUERRA NA GUINÉ PORTUGUESA

SEIS HORAS NA VIDA DE UM MILITAR

Na parede de adobe, mal caiada, e onde esverdeadas manchas de humidade alastravam, o calendário do ano de 1963 marcava uma data: 24 de Dezembro.
Com a janela aberta, por onde apenas entrava, na abafada e sufocante noite tropical, uma suspeita de frescura, o jovem oficial miliciano, à luz de uma vela, escrevia: «… Minha Querida Mãe, são 21 horas e 40…»

À luz de uma vela, porque a chama do petromax é alvo demasiado visível para qualquer atirador especial terrorista, alcandorado, ao longe, no cimo de alguma árvore. Mas ouve-se um estampido. Podia bem ser a rolha de uma garrafa de champanhe a saltar…

Ao estampido segue-se, porém o assobio quase imperceptível de uma bala que vai cravar-se na húmida parede de adobe, coisa de um metro acima da cabeça do oficial. Este apaga logo a vela. Depois, às apalpadelas, no escuro, procura o capacete e a pistola.

Quando finalmente sai já o duelo – a tiros de espingarda e rajadas de metralhadora - está a travar-se entre os terroristas (ocultos na floresta) e os seus soldados abrigados por detrás da muralha – só aparentemente frágil – de velhos bidões de gasolina cheios de areia. Entre uns e outros ergue-se a cerca de arame farpado.

Está isolada a pequena força do destacamento de Caçadores. O posto mais próximo é a muitos quilómetros de distância. Antes que amanheça, nenhum auxílio podem esperar estes homens. Mas será que os terroristas se aprestam para um ataque frontal?

Aos soldados e ao oficial também, o que sobretudo os irrita é que aquele inoportuno tiroteio aconteça em noite de Natal, já com a mesa posta para a consoada. E havia broas, uma galinha assada, algumas garrafas de bom vinho.

A noite, entretanto, povoa-se de clarões – as armas de fogo que disparam incessantemente, assinalando cada segundo com um tiro. E as horas passam.

Mas o jovem oficial nem tempo tem para ver as horas no pequeno mostrador luminoso do seu relógio de pulso. E nem sequer pensa no perigo – ali entrincheirado e tendo pela frente um inimigo bem armado, que conhece a palmos o terreno e vê de noite, como o jaguar.

Agora só pensa naquela carta que teve de interromper: 
«…são 21 horas e 40…».
Mas quando é que isso foi?
Era noite de Natal.
E agora? Sim. A meia-noite deve estar próxima. Talvez o padre, algures, já esteja a encaminhar-se para o altar. Mas o jovem oficial não o sabe de certeza – e não pode ter um olhar para o mostrador luminoso do seu relógio de pulso. A pistola-metralhadora palpita-lhe nas mãos como se fosse dotada de vida própria e chispas de fogo, desdobradas em leque, correm, segundo a segundo, em direcção à negra cortina de arvoredo.

No mundo em que não há guerra já decerto agora o sacerdote acabou de celebrar a Missa do Galo.
Aqui, o fogo começa, enfim, a esmorecer.
Naturalmente, os terroristas principiam a retirar, para que os aviões ao amanhecer, se viessem bombardear a floresta, já não os encontrem…

Uma a uma, calam-se as armas automáticas do inimigo. Uma a uma, a intervalos certos, como se houvesse, algures no mato, a batuta de um maestro.

Mas será de facto a retirada? Não será antes o silêncio de mau agoiro que sempre antecede a gritaria de um assalto frontal? Não. É efectivamente a retirada.

E devagar, como se lhe custasse a acordar de um pesadelo, o jovem oficial recolhe ao seu quarto, risca um fósforo, acende a vela, atira para um canto o capacete, que está a queimar-lhe a testa, e suado, exausto, com os nervos num feixe, senta-se, de novo, à mesa para escrever: «… pois agora, minha querida mãe, são 3 horas e 20. Eu e os meus soldados tivemos uma noite de Natal muito divertida. Nem imagina… As broas que nos mandou souberam a pouco. E das garrafas mandadas pelo pai, diga-lhe que não ficou nem uma gota».

21 horas e 40. 3 horas e 20.
Menos de seis horas na vida de um homem. Mas deitado numa padiola, com uma bala na cabeça, o Manuel, o seu impedido, é um corpo que rapidamente arrefece, como no verso de Fernando Pessoa.

Artigo não assinado. Publicado em «O ALCOA» em 8 de Fevereiro de 1964 (Ano XVII-Nº.876), quinzenário da região de Alcobaça onde colaborei durante muitos anos.

NOTA FINAL-Fiz muitas pesquisas para descobrir dois mistérios que resultam deste artigo de O ALCOA”:

1) Quem é o Alferes Miliciano?
Só pode ser da região de Alcobaça. Terá regressado à Metrópole num navio que deixou Bissau em Janeiro de 1964.Há um navio que saiu de Bissau em 17 de Janeiro de 1964.
Já localizei as Companhias e Pelotão de Morteiros que regressaram nessa altura. Esses militares estiveram cerca de dois anos na Guiné onde a guerrilha começa a ter importância no terreno a partir dos primeiros meses de 1963.
(C.Caç. 600, C.Caç. 512, C.Caç. 506, C.Caç. 513, C.Ca. 356, C.Caç. 599.)
Para se ser Alferes Miliciano nesse tempo era preciso ter habilitações literárias no mínimo equivalentes ao 3º. Ciclo dos Liceus (antigo 7º. Ano).
Pesquisei no arquivo da C. M. de Alcobaça os registos de mancebos respeitantes aos anos de 1958, 1959, 1960 e 1961.
Encontrei vários nomes, consegui alguns contactos pessoais mas... nada.

2) Quem é o militar que morreu na véspera de Natal de 1963?
Nos registos oficiais do E.M.E. só há um militar das milícias locais que morreu por acidente em 24 de Dezembro de 1963 – JARGA SEIDI, soldado-atirador da CCS/Bat. Baç. 508, em Contubel.

Com nome de Manuel há um registo em 28 de Dezembro de 1963:
MANUEL RAMALHO CAPELAS,1º.CABO-ATIRADOR, CCAV 567, BINAR.DATA DE FALECIMENTO – 28 DE DEZEMBRO DE 1963.FERIDO EM COMBATE (Mortos em Campanha – Guiné – livro 1, pgs.42).
Não é impossível um engano nos registos mas não é nada vulgar…

Há outras “incoerências” que não encaixam na história: Binar não é um posto fronteiriço e um primeiro-cabo não era habitual ser “impedido” de um Alferes. Por outro lado a CCav 567 só acabou a sua comissão em meados de 1965!
Resumindo e concluindo: Passo a minha angústia e o meu mistério à nossa Tabanca do Centro. Alguém alguma vez ouviu alguma coisa deste ataque a uma pequena força de um destacamento de Caçadores na noite de Natal de 1963?

«…Menos de seis horas na vida de um homem. Mas deitado numa padiola, com uma bala na cabeça, o Manuel, o seu impedido, é um corpo que rapidamente arrefece, como no verso de Fernando Pessoa.»

«…Malhas que o Império tece
(O Manuel) Jaz morto e apodrece…».
___________

A minha intenção ao evocar o “Soldado Desconhecido” desta história – o Manuel – é acima tudo de homenagem e de respeito. Se não houver respeito - melhor ainda, se não houver grandeza de alma e memória - Portugal não merece os que morreram em seu nome.

José Eduardo Reis de Oliveira (JERO)
Fur Mil Enf da CCAÇ 675




sábado, 19 de dezembro de 2015

P742: LANÇAMENTO DE UMA OBRA DUM NOSSO CAMARIGO

UM LIVRO DO JUVENAL AMADO

No nosso próximo encontro no dia 29 de Janeiro, para além de festejarmos o nosso 5º aniversário vamos ter também connosco o Juvenal Amado e o seu livro agora editado e lançado “A Tropa vai fazer de ti um homem!”

Homem de coração grande e solidário, quer o Juvenal dar parte da receita da venda do seu livro nesse dia para a ajuda que a Tabanca do Centro dá a alguns combatentes com necessidades. Assim sendo, do valor de venda do livro de 15,00€ (venham preparados para o comprar) 2,00€ reverterão, por vontade dele, para a ajuda aos combatentes.

Claro que a Tabanca do Centro, para além de se sentir honrada com a vontade do Juvenal em trazer o seu livro para o nosso Encontro, também se sente orgulhosa, não só da escrita, mas também da solidariedade do autor, que é um dos “fundadores” da nossa Tabanca do Centro.

Aproveitamos assim para sugerir/pedir que quem quiser comprar o livro o faça nesse dia do Encontro da Tabanca do Centro, para assim poder ajudar os combatentes necessitados e levar também consigo uma boa leitura.

Referiu-nos o Juvenal que o livro também estará à venda nos Encontros seguintes para quem não consiga estar presente em Janeiro, com a mesma receita (2,00€) a reverter para o fundo de apoio aos combatentes.

Ao nosso camarigo Juvenal Amado o nosso forte, grato e amigo abraço. Cá te esperamos de braços abertos.

                 A Tabanca do Centro



quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

P741: TINHA QUE APARECER A MELGA BUARQUENSE...

A DEFESA DA MOSCA MORTA...

Recebemos esta carta meio-aberta vinda da habitual Melga Buarquense, com a sua arenga habitual contra tudo e todos. Mesmo não tendo sido invocado o direito de resposta, não queremos deixar de publicar aqui a bílis destilada por este nosso (pelos vistos…) leitor… e opositor (parece…).

“Fico espantado com este ódio dedicado ao mosquito.

Esse belo animal, esse maravilhoso insecto díptero, primo direito da melga e parente próximo da mosca, cuja existência, só de "per si", tanto enriquece a língua portuguesa e a cultura luso-galaica.
Quem nunca ouviu chamar Mosca-morta, a uma pessoa indolente?
Quem nunca ouviu dizer "estás com a Mosca", quando alguém está irritado?

Quem nunca foi picado por uma simpática Mosca tsé-tsé, esse agente inoculador da doença do sono que provoca dias e dias de uma profunda e reparadora soneca?
E eu, pobre de mim, que não passo de uma Mosca morta, dada a minha timidez e inocência, aqui estou para me solidarizar com todos os insectos dípteros em geral e com o Mosquito, em particular, e deixar uma palavra de desagrado para essa errática Tabanca do Centro, local de contínuo asneirar a tornar-se, cada vez mais e pelos piores motivos, um "study-case"! Duvidam? Façam um inquérito e logo verão!

O director Pessoa, não satisfeito com o título do seu "artigo" 739, “CONTRA OS MOSQUITOS, MARCHAR, MARCHAR”, apresenta várias formas de combate ao mosquito, não se esquecendo (é esperto como um alho) de enaltecer um tal Leão, leão esse que logo chamou à ribalta outro conhecido adepto do clube derrotado em Braga, o Juvenal Amado, para mais uma história de combate "toalhal" e verbal ao pobre do Mosquito.
Uma última palavra para o correspondente José Belo: Se os mosquitos incomodam tanto os turistas quando acampam junto aos lagos, mande-os para o meu BUARCOS LINDO, onde esse estimado animal não ataca nem nas partes altas e muito menos pica nas partes baixas!

                                                    Por hoje é tudo!
O MELGA-De-FERRÃO,
 correspondente em matérias científicas
da FRELIBU” 

(Vulgo Vasco da Gama, acrescentam os editores...)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

P740: AINDA A PROPÓSITO DE MOSQUITOS...

Do nosso camarigo Zé Belo, nosso correspondente na Lapónia, surge-nos este comentário que poderá complementar o que já aqui foi dito sobre o combate aos mosquitos. Só que neste caso particular o mata-mosquitos eléctrico não teria grandes probabilidades de resultar...

"Nas curtas semanas do nosso Verão os terrenos baixos estão completamente alagados devido ao degelo.

Como é o período do Sol da meia noite e de temperaturas "suportáveis" para actividades de amadores citadinos (no exterior), muitos turistas vêm até aqui, acampando geralmente junto aos lagos e rios devido às vistas fantásticas, a pesca abundante e a canoagem fácil.

Só que... desconhecem... (e ninguém lhes diz!) que nesse período do ano até as renas se mudam para as terras altas e montanhosas para fugir aos mosquitos!

o é por acaso que muitas casas locais estão situadas em lugares bem altos.

São curtas as semanas com mosquitos mas... infernais.

Os piores ataques de mosquitos que experimentei na Guiné em nada se podem comparar com o que aqui acontece durante esses dias... felizmente curtos.

Por muito incrível que possa parecer por nos estarmos a referir ao que se passa dentro do Círculo Polar Árctico, as nuvens de mosquitos são tais que acabam por matar renas adultas devido à exaustão que lhes provocam durante dias a fio."

José Belo


Também da parte do Juvenal Amado a explicação de como ele complementava o ataque às melgas e mosquitos com valentes gritos de guerra que felizmente não terão traumatizado a criancinha ao seu lado...

"Miguel, o Leão também era o maior na Guiné. Ah ah ah!

No posto de sentinela era a única salvação contra os ataques da mosquitagem, que até através da roupa nos picava, já que no abrigo depois de descobrir os beneficio de ter uma rede mosquiteiro, até era um gosto ouvi-los sem nos poderem tocar.

Bem, aqui em Fátima embora more num 3º andar, melgas e mosquitos são uma praga e tenho se não um, dois já modernos, que ligam e desligam a horas certas. Arranca o da sala primeiro e passado 2 horas arranca o do quarto, já o outro está a desligar. Enfim, modernices...

Mas quando morava na Boavista de Alcobaça e a minha filha era pequena, esses materiais eram proibidos pela minha mulher, pois podiam fazer mal à menina.

Assim fazia-se revista aos quartos e normalmente todas as noites, lá andava eu de toalha na mão a matar melgas com normalmente maus resultados para as paredes, que tinham que ser lavadas amiúde.

Assim a garota que mal sabia falar era testemunha dos espectáculos que eu dava meio ensonado, pois ela assim que podia deitava-se no meio dos dois. E podia todos os dias.

Mas eu lá andava feito tonto, falando sozinho,- "Ah, filha da p… que não te apanhei" ou "toma, filha da p…, que já não mordes em mais ninguém".

Uma bela noite andava eu nesse tráfego quando oiço uma vozinha dizer: 
"Ó pai, está ali outra filha da p…"

Às vezes até as paredes têm ouvidos. Essa é que uma verdade."

Juvenal Amado

P739: COM BONS SERVIÇOS PRESTADOS

CONTRA OS MOSQUITOS

Recentemente, aproveitando uma confraternização das Mulheres Paraquedistas (o seu XI Encontro) em que eu e a Giselda costumamos estar presentes, deslocámo-nos para a zona de Aveiro, onde permanecemos dois dias. 


Do meu kit de viagem fazia parte o habitual aparelho mata-mosquitos eléctrico, uma das poucas peças sobreviventes dos meus tempos da Guiné. Acabei por não o utilizar porque as moscas, as melgas e os mosquitos não nos hostilizaram, mas o aparelho, esse, lá estava pronto como de costume para o que desse e viesse.

Este mata-mosquitos foi uma das minhas primeiras aquisições após a minha chegada a Bissau, um aparelho eléctrico que podia ligar-se à tomada da parede, coisa com que os recém-chegados da metrópole não estavam ainda habituados a lidar.

Claro que havia no mercado outras opções, nomeadamente o Lion Brand (ou Leão Brando, como muitos lhe chamavam…), a Marca do Leão, como se podia adivinhar pela figura do leão na embalagem. 

Mas, sendo para uso no meu quarto na Base Aérea, achei mais adequado o sistema eléctrico (menos poluente de fumo e cinzas), embora reconheça a maior polivalência do Lion Brand para quem, no mato, não dispunha (ou dispunha esporadicamente) de energia eléctrica nas suas instalações, ou para quem se fazia acompanhar do dito para ir comer sossegamente umas ostras à Casa Espada, sem ser atacado pelos mosquitos.

Passe a publicidade, aquele dispositivo da marca Vape-Mate prestou-me bons serviços durante toda a minha estadia na Guiné; no regresso, sabendo que na metrópole estas modernices ainda não estavam implementadas, municiei-me com uma série de recargas de pastilhas para assim poder continuar a dar-lhe bom uso, embora de forma mais esporádica.

Tal durou um par de anos até que, por se terem esgotado as munições, guardei o aparelho num armário e esperei por melhores dias… O que sucedeu alguns anos depois, com o aparecimento no mercado de máquinas do mesmo tipo e respectivas recargas. Penso que da Vape-Mate não surgiu nada no mercado, mas apareceram outras marcas que ainda hoje podemos encontrar nas prateleiras das lojas, pequenas ou grandes.
Claro que se iniciou aí uma segunda vida para o meu mata-mosquitos que, nas minhas mãos, irá comemorar o seu 43º aniversário sem quaisquer falhas, embora (por não haver necessidade) actualmente funcione a um ritmo muito inferior àquele que lhe era exigido nos meus tempos da Guiné.

E embora com um aspecto algo chamuscado (é do uso…) ele aqui continua pronto para despachar uma catrefada de recargas… e de mosquitos…


Miguel Pessoa

domingo, 13 de dezembro de 2015

P738: PESADELOS...

FESTIVAIS  OUTONAIS  DA   FRELIBU

Varrendo o nosso ilustre torrão lusitano de norte a sul e também chegando às ilhas, os festivais de verão passaram a ser obrigatórios e são hoje, em todo o Portugal, uma verdadeira instituição, segundo uns… e uma verdadeira praga, de acordo com outros!

É o festival da ameixa, o festival do marisco, o festival da canção, o festival da pera rocha, o festival da maçã reineta,  o festival de rock no rio e no mar, e até, pasme-se o festival de arremesso da árvore do natal!

Como na Tabanca do Centro o Natal ainda se comemora em clima outonal só peço que nenhum maduro se lembre de pôr em prática tal ideia e desatar a atirar pinheiros desde o café Central para ver se acertam na pensão Montanha! 


Eu, que tenho pancada, não me importava nada de participar em tal evento e é só pedir ao Kambuta dos Dembos que ele fornecesse logo três ou quatro dúzias de árvores do pinhal de Leiria que ele conhece melhor do que ninguém! 

Treinava aqui nos extensos areais da Figueira e chegava a Novembro com tal músculo e pontaria que o país desportivo enchia as afamadas Termas de Monte Real, pensões e hotéis de Leiria e arredores só para me ver em acção.

Podia ser até que o Joseph Belo viesse desde o círculo polar ártico assistir ao concurso, dar-nos o prazer da sua companhia e trazer-me uma parelha de renas para eu me poder deslocar a Coimbra semana sim, semana não, para controlar os triglicéridos mais o colesterol mais os rins mais os lípidos mais o diacho que carregue as doenças!

“Mas o que é que isto tem a ver com a Frelibu?”, pergunta o inefável, o expoente máximo na arte de “revistar”, o inexcedível Miguel Pessoa, sempre a pedir material ao pessoal para manter em actividade o Blogue da Tabanca do Centro que em tão boa hora criou e mantém, dirigindo a palavra ao Amado Chefe que o acolitava na leitura!

“O gajo está a delirar! Perdoa-lhe, Miguel, que perdoar é essencial ao nosso bem-estar e os triglicéridos subiram-lhe à cabeça”, falou pausadamente o nosso Amado Chefe que, logo de seguida, e após valente murro na mesa exclama: “Vou já telefonar ao gajo que, ou se cala ou se lixa, e nunca mais põe os pés na nossa Tabanca, onde aliás já não aparece há não sei quantos almoços”….

Retomemos então o fio à meada:
A vetusta, notável, insigne, ilustre, célebre, extraordinária, invencível FRELIBU decidira por unanimidade organizar também o seu festival, mas um festival a sério, um festival consentâneo com a valentia dos seus soldados: O FESTIVAL DA BARBA E DO BIGODE!

Chegaram aos milhares as inscrições de todo o nosso Portugal e também uma inscrição da Figueira da Foz que levantou grande celeuma mas que ao fim de enorme discussão lá foi aceite a pedido de Don António Pimentel que, ao que consta, tem alguns amigos na direcção da FRELIBU.

Estava tudo prontinho mas faltava escolher um  apresentador à maneira!
“Talvez o senhor Manuel Luís Goucha, que em rapaz passava férias na Figueira…”, alvitrou uma voz em timbre de falsete vinda do fundo da sala.

“Kais  Goucha, Kais Caraças! O apresentador do nosso festival tem de ser um homem de cultura, um homem sábio, um perito, um douto, um erudito, um verdadeiro feiticeiro da palavra e em Portugal só há dois, eu, Presidente da Frelibu e o JERO de Alcobaça!...

E, sem mais delongas, logo se lavrou o auto:

               
Salvé, JERO Camarigo
Sabendo quão és importante
Do meu humilde postigo
Saúda-te o Almirante

Um favor te venho pedir
Com toda a minha amizade
Forjada em Alcácer Quibir
Onde levámos porrada

Tenho problema bicudo
                                                         Que quero já resolver
                                                         Amigo, que sabes tudo
                                                         Ajuda-me com o teu saber

                                                         Vem depressa e a correr
                                                         Apresentar o festival
                                                         Acaba lá de comer
                                                                         Antes qu’ isto corra mal!

Meus Amigos, não vos digo nem vos conto, ainda escrevia a última linha do meu verso e já o Camarigo JERO estava em Buarcos de garfo na mão direita e guardanapo pendurado ao pescoço tendo até tido o cuidado de deixar crescer a barba no trajecto de Alcobaça para Buarcos.

Trocou o garfo pelo microfone e logo subindo ao palco debaixo de estrondosa ovação assim perorou:

“Buarcos Lindo, terra heróica de imortais navegadores, eis os resultados do concurso:

           Em quarto lugar, FRELI ARANHA
           Em terceiro lugar FRELIMÚSICO
           Em segundo lugar FRELIPAULINHO

E, finalmente, o grande vencedor da noite, o FRELITRIO!”

E logo ali se armou tamanha confusão. Uma ala da FRELIBU gritava: “Mas que raio se está aqui a passar? Isto é um concurso individual e é um trio que ganha?”

Logo do outro lado da sala, ainda de forma ainda mais audível, se escuta: “Calem-se! Ou não são capazes de ver que nós temos muito mais pêlos juntos do que vocês?!”

O nosso JERO, que já sabe que estas histórias terminam sempre em grande pancadaria, preparava-se para subir para o seu héli quando, uma vez mais, a tal voz de falsete sobe para o palco e diz: “Queriam….queriam….. e o/a representante da Figueira ?  Ei-lo/a!”

Caiu um silêncio sepulcral sobre a assembleia que durou três ou quatro segundos pois logo de imediato as duas facções da FRELIBU se uniram e desataram a atirar tomates ao senhor/a figueirista que, saltitando e aos gritinhos, desapareceu de cena….

E eu também me vou embora antes que algum gajo da Tabanca do Centro me atire com um molho de  hortaliça…

Vasco da Gama         

“Pois é, Vasco… Aí deves ter acordado deste sonho marado!...”, dizem os editores…