sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

P590: MAIS DO MESMO...

Pelos vistos uma das histórias de farmácias do nosso camarigo JERO, recentemente publicada, despoletou velhas recordações no Juvenal Amado, como ele nos relata neste texto de introdução à sua história:

Esta é uma pequena história contada pelo próprio há alguns anos quando o Félix regressou da sua comissão na Guiné e era eu praticante de pintor na mesma secção da empresa.

Os tempos mudaram e hoje falamos abertamente de coisas que na altura eram praticamente proibidas de mencionar em público.

O JERO conhece bem de quem estou a falar. Não cometo nenhuma inconfidência pois já lá vão mais de 45 anos, talvez, e não me foi pedido segredo desta bem humorada ocorrência.

Juvenal Amado”

HISTÓRIAS DE PHARMÁCIAS

O Félix era aprendiz de pintor na Crisal de Alcobaça e era natural o encarregado mandá-lo fazer pequenos recados, coisa que não desagradava ao jovem, uma vez que andar na rua era bem melhor do que estar na secção a repetir vezes sem fim os mesmos serviços.

Ora ia levar alguma coisa à esposa ou ia buscar o lanche para o chefe, enfim, era o aprendiz mais novo e, por isso, mais à mão de semear para esses pequenos serviços.

Um dia o chefe enviou-o à farmácia buscar uma caixa de preservativos da marca tal, que aliás ele já sabia de cor e salteado, uma vez que era useiro e vezeiro nesse recado.

Na nossa idade lembramos-nos de como era difícil chegar à farmácia e pedir tal “equipamento”. Não era raro vermos homens de parte, assim como quem não quer a coisa, à espera do momento oportuno para pedir ao empregado ou mesmo dono do estabelecimento a famosa e milagrosa caixinha, que evitava inconvenientes ou males maiores nos relacionamentos amorosos.

Ora o nosso herói chegou à farmácia onde era empregada uma senhora e era natural e de bom tom evitar-se pedir os “ditos” a ela; assim que ela via um homem assim de lado, arranjava alguma coisa para fazer lá dentro no armazém, para que a respectiva transacção fosse feita longe dos seus olhares.

Mas do garoto nada disso havia a temer e à pergunta “o que queres, menino?”, logo recebeu o pedido assim a frio - “ quero uma caixa de preservativos da marca tal”. A empregada fez-se encarnada até às orelhas e logo retorquiu que não tinha lá nada disso. O Félix alargou um belo sorriso, pois sabia ele bem onde aquilo estava, disse prazenteiro apontando para a prateleira muito satisfeito por estar a prestar um serviço, “há, há, estão ali”.

Pagou pois já levava o dinheiro à conta e, todo satisfeito, nem se apercebeu dos engulhos que tinha criado.

Hoje os tempos são outros e compram-se em qualquer farmácia ou supermercado sem constrangimentos de maior mas o Félix, sem saber, fez a sua parte na transformação do tabu de então e na alteração dos comportamentos.

Um abraço do

Juvenal Amado

4 comentários:

Anónimo disse...

Excelente "estória", Juvenal Amigo. Estou muitas vezes com o Felix, que também já me contou algumas das "boas", D'outra origem soube há tempos que em S.Martinho do Porto um freguês tocou à campainha da Farmácia (única da terra) às 2 da manhã.A farmacêutica veio à janela - morava no 1º.andar por cima da farmácia - e perguntou o que é que o senhor queria. Queria um preservativo...A farmacêutica fez uma pausa e deu-lhe um conselho:- Vá até à baía e tome um banho que "isso" passa-lhe !!! Abraço de Alcobaça, JERO.

Anónimo disse...

Agora não consigo, colocar o comentário. Vamos ver se é desta. Gostei da "historinha". Outros tempos!.. Agora a juventude pede-os e tem-nos também gratuitamente, em determinadas situações de doença. Passámos do 8, para o 80. Não sei se estamos melhor nesse especto. Um abraço amigos. Mª Arminda

zé manel cancela disse...

Está fantástica,Juvenal.Nao há nada melhor,que começar o ano á gargalhada.....Um abraço e um 2015 o melhor possível.......

Hélder Valério disse...

Pois sim senhor, uma "história de outros tempos", conforme sabemos e que aqui tem sido referido e ainda bem sublinhado pelo comentário da nossa ilustra M.ª Arminda.

Realmente, nos tempos de hoje, é muito difícil um jovem, que tem tudo facilitado, nesses aspectos e em outros, entender, ou sequer imaginar, como as coisas se passavam ainda no início da década de 70 do séc. XX, ou seja, há escasso 40 anos...

Mas, para não 'contaminar' a história com estas lamentações, sempre digo que este tipo de constrangimento originava muitas vezes coisas muito caricatas, como as piscadelas de olho ao farmacêutico para chamar a atenção e evita assim ser atendido pela farmacêutica, a recorrência à designação "camisa de vénus" para referir o 'equipamento' e quem foi que não ouviu a graçola de ao pedido de uma dessas terem perguntado "com mangas ou sem mangas"?

Abraço
Hélder Sousa