sexta-feira, 21 de novembro de 2014

P572: CARTAS DO JOSÉ BELO

UMA PERSPECTIVA ABRANGENTE?...

Introdução

Viver-se dentro do Círculo Polar Árctico a 279 quilómetros da casa mais próxima, muitas vezes com temperaturas de 40 graus negativos, nevões infindáveis, e demasiada falta de luz envolvente, não torna a tão saudável passeata diária até á porta do vizinho para dois dedos de conversa mole algo de facilmente realizável.

É então que o computador surge como a máquina "milagrosa" que aparenta ser.
Em curtos segundos está-se na quente e fraternal Lusitânia (para os mais cínicos, talvez mais quente e fraternal quanto maior a distância com que é observada) em diálogos de "vida ou de morte" com Camaradas e Amigos totalmente desconhecidos, não fora o termos em comum a "bagatela" da guerra na Guiné.

Na busca de comunicação, contacto, camaradagem, memórias comuns, amizades, humor e, não menos, tudo o que de culturalmente nos UNE, haverá por vezes exageros de entusiasmo participativo.

Explicáveis, mas e de qualquer modo... exageros.

É então demasiadamente fácil cair-se na busca do tal "diálogo provocador" ou, como tão bem descreveu Alberto Branquinho, conversas com o umbigo.

É nestas alturas que, felizmente, uma certa humildade Cristã bate à porta... mesmo para não Cristãos como eu!

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Muitos julgam ter uma perspectiva abrangente das realidades nas ex-colónias portuguesas pelo facto de terem cumprido uma Comissão de Serviço algures no Império, olhando em redor com os olhos dos "verdes" vinte anos, feitos de experiencias muito distintas das militares ou africanas.

Os que viveram em isolados Destacamentos de Tabancas perdidas na mata em convivência próxima com africanos, civis e militares ficaram com uma percepção de, a seu modo, terem entreaberto uma pequena janela para com um outro... mundo.

Mas, mesmo assim, uma janela menos genuína por condicionada pelas realidades da guerra envolvente.

Para muitos, integrados em Unidades Militares formadas de metropolitanos, com uma vida diária em conjunto (tanto em serviço como nos tempos livres) as possibilidades dessa "pequena janela aberta para com a África profunda" seriam ainda mais restritas... mesmo que para alguns estas realidades, por circunstâncias várias, não terem sido tão lineares.

Soma-se o facto de as nossas passagens por África, apesar de aparentemente infindáveis (!), terem sido curtas para nos permitir, dentro das limitações existentes, a tal visão abrangente.

Militares houve, com numerosas Comissões de Serviço  mas, não seriam muitos os que "procuravam olhar analiticamente em volta" fora das áreas exclusivamente profissionais.
Obviamente, no meio político existente tal não seria aconselhável para carreiras futuras.

Muitos de nós que, com orgulho e respeito diariamente hasteávamos a Bandeira Nacional nos tais Destacamentos, sentem hoje a forte necessidade de aprofundar conhecimentos quanto às realidades coloniais nos seus detalhes sócio-administrativos.

É por isso que os documentos e memórias vividas dos períodos antecedentes (e posteriores) à guerra se tornam tão importantes, não se devendo deixar perder as oportunidades que ainda hoje nos são dadas pelos relatos dos ex-colonos, dos Administrativos, dos residentes em geral.

Será dentro deste somatório factual, que as décadas vão inexoravelmente purificando dos "acessórios da pequena política", que poderemos (talvez) vir a compreender qual o papel por nós verdadeiramente desempenhado em tão importante momento da nossa História.

Um abraço do
José Belo


terça-feira, 18 de novembro de 2014

P571: AMEAÇA TERRORISTA...

UMA PARTIDA SEM CONSEQUÊNCIAS,
A NÃO SER O RISO

Já por aqui se contaram algumas histórias com graça e, como é costume dizer, não ofendem, mas dão para rir.
Achei então por bem, escrever um texto, relembrando uma história engraçada que se passou comigo e com outros, no então RAP 2, na Serra do Pilar, onde formei Batalhão para servir na Guiné.

Cheguei ao RAP 2 - julgo que juntamente com os outros oficiais, (Aspirantes), e sargentos, (Cabos Milicianos que iam formar Batalhão) - aí pelo mês de Julho, findas que tinham sido as especialidades de cada um.

Julgo que começámos a instrução do Batalhão por volta de Outubro de 1971, partindo para a Guiné no dia 21 de Dezembro de 1971, a bordo do Niassa, a partir de Lisboa.
Houve então ali um período, entre Julho e Outubro, em que fizemos sobretudo Oficiais de Piquete e, ao que me lembro, pouco mais.

Havia então ali, à saída em frente da descida, o Café Mucaba e do outro lado da ponte D. Luís, do lado esquerdo de quem vai para o Porto, o Bar América, (onde umas raparigas de fino porte alegravam as noites), mas isso são outras histórias que talvez um dia conte.

Mas vamos à história, na qual omitirei os nomes, (tirando o meu), por razões óbvias que compreenderão, e que envolve dois Alferes Milicianos que não pertenciam ao Batalhão e que, julgo, nem sequer foram mobilizados para lado nenhum.

Um (a “vítima” da partida que vou contar), era bom rapaz, mas um pouco lerdo, se é que me faço entender, de tal forma que não podia, por ordens superiores ao que me lembro, ocupar as funções de Oficial de Dia.
Ora como o fruto proibido é o melhor, o homem ansiava por um dia poder andar de pistola à cinta, fazendo de Oficial de Dia.

O outro, o colaborador na partida, era um “gajo porreiro”, que andava por ali a passar o tempo à espera de acabar o tempo da tropa e que obviamente não levava nada daquilo a sério. Claro que entre ele e mim se estabeleceu uma certa empatia, e se eu já estava apanhado do clima mesmo antes de chegar à Guiné, ele não estaria muito melhor, afectado com certeza pelos ares demasiado “puros” da Serra do Pilar.

Ora um dia em que por coincidência ele estava de Oficial de Dia e eu de Oficial de Piquete, depois de uns uísques bebidos na Messe de Oficiais e com certeza de imensos “elogios” à família militar que nos dava cama e mesa naqueles tempos, decidimos concretizar o sonho do outro Alferes acima referido, e que nunca ou quase nunca saía do quartel.
Se bem pensámos, melhor o fizemos, e engendrámos o seguinte esquema.

Ao fim do dia (quando já tivessem saído os comandantes), depois do jantar (já noite dentro, para não haver surpresas de oficiais superiores), ele como Oficial de Dia chamaria o outro Alferes à minha frente, Oficial de Piquete, e dir-lhe-ia que tinha um problema grave em casa, e que obrigatoriamente tinha de se ausentar.

E a conversa continuava:
Ele como Oficial de Dia era no momento o comandante do quartel e como tal investia-o nas funções de Oficial de Dia até que ele pudesse regressar.
Não havia problemas porque ele podia contar com a minha ajuda, etc., etc.

O outro, embora receoso, não cabia em si de contente vendo-se já de “pistola à cinta”!

Fez-se no gabinete do Oficial de Dia uma “cerimónia” de passagem de “testemunho”, com entrega da Bandeira Nacional e tudo!!!

O primeiro Alferes saiu então do quartel, tendo reentrado pouco tempo depois e ficado na Casa da Guarda logo junto ao portão.
Passado pouco tempo eu disse ao “Oficial de Dia” que tinha de inspeccionar qualquer coisa e vim para a Casa da Guarda, sem ele saber.
Daí (e ele não se apercebeu de onde vinha o telefonema), telefonei para o gabinete do Oficial de Dia, imitando um suposto General Comandante-Chefe da Região do Porto, informando que tinha havido um aviso que um qualquer grupo terrorista iria atacar o RAP 2 e como tal ele, Oficial de Dia, tinha que tomar as medidas necessárias à defesa do quartel.
Para tornar mais credível a coisa pedi-lhe para se identificar e sei lá mais o quê!

Claro que logo a seguir vim ter com ele como se nada se passasse!
Encontrei-o em pânico, sem saber o que fazer!

Entretanto e passado pouco tempo chegou o primeiro Alferes, (o Oficial de Dia a sério, que passo a designar como ODV – Oficial de Dia verdadeiro), e perante a situação (a coisa já estava combinada comigo), disse que não podia reocupar as funções visto que ele (a “vitima”) se tinha identificado ao General e como tal teria de levar a coisa até ao fim.

A partir daí foi um crescendo de “asneirada” de tal modo que só a muito custo nos conseguíamos manter sérios, tendo que vir “desopilar” cá fora de quando em vez e até para avisar os oficiais, (Aspirantes), que iam chegando da noite.
“Solenemente” o ODV, comigo como testemunha, entregou a Bandeira Nacional ao ODF, (Oficial de Dia Falso), com o solene compromisso que a devia defender até ao limite da sua vida.
Eu fui incumbido de alertar o Piquete, o que verdadeiramente não fiz, obviamente, bem como avisar as sentinelas, o que também fingi.

Tratou-se então de defender o gabinete do Oficial de Dia, que ficava, salvo o erro, ao lado do bar de oficiais, pelo que, se decidiu instalar uma MG 42 em cima da mesa do referido Bar, bem como se distribuíram por aqueles espaços as armas que estavam à mão.
O pessoal (Aspirantes) que ia chegando ia ajudando à “festa”!

Já não me lembro bem do que se fez mais, mas a situação era hilariante, com todas as histórias à volta e os avisos de defender o quartel até à morte!

Surge então a ideia mais estapafúrdia que era trazer, sob as ordens do ODF (aconselhado por nós claro), um Obus 14 que havia no parque exterior e colocá-lo no cimo da rampa que dava acesso á Porta de Armas e apontado a esta!
Não sei se estão a ver a ideia de um Obus apontado para baixo!!!

Com toda a franqueza não me lembro se chegámos a concretizar esta “brilhante ideia”, embora eu pense que sim, (outros do meu Batalhão que ali estivessem se poderão lembrar), mas tenho a noção que, por um daqueles azares que só acontecem nestes momentos, o 1º ou 2º Comandantes vieram ao quartel à noite por qualquer razão.

Claro que aquele que veio se deparou com todo este aparato, e houve a necessidade óbvia de explicar o sucedido, o que segundo me lembro, foi recebido com os avisos de “porradas” a aplicar, mas no fundo com um sorriso condescendente e compreensivo, (caramba o pessoal ia para a Guiné), e julgo que não houve consequências de maior.

À distância parece uma coisa talvez sem graça, mas naquela noite “chorámos” a rir, e durante uns tempos foi conversa obrigatória.

Está bom de ver que fizemos as pazes com o “visado”, que sendo boa pessoa, engoliu a partida e tudo ficou “como dantes, quartel-general em Abrantes”.

Aqui fica uma história para a posteridade, que não teve outras consequências a não ser algumas gargalhadas.

Um abraço camarigo para todos do
Joaquim Mexia Alves


sexta-feira, 14 de novembro de 2014

P570: "NÓS, ENFERMEIRAS PARAQUEDISTAS"

LIVRO VAI SER APRESENTADO NO PRÓXIMO DIA 26 DE NOVEMBRO
NO ESTADO-MAIOR DA FORÇA AÉREA, EM ALFRAGIDE

      Custou, mas... Finalmente, está prestes a ver a luz do dia o livro "Nós, Enfermeiras Paraquedistas", uma obra para a qual contribuiu um bom número de enfermeiras paraquedistas com as suas memórias pessoais de um período muito rico da sua vida pessoal e profissional ao serviço da Força Aérea.

O livro é pois o resultado do esforço desse grupo de enfermeiras que decidiu dar cumprimento a um desejo da sua colega Zulmira, infelizmente já falecida, de escrever um livro sobre a vivência deste grupo de mulheres na Força Aérea, nos tempos da guerra do Ultramar.

Vários livros têm sido publicados sobre a actividade das enfermeiras paraquedistas, mas nenhum por iniciativa própria. Talvez por isso, nenhuma dessas obras traduz o que elas pensavam e sentiam naquele que a maioria considera hoje ter sido um "período de ouro” das suas vidas. 

Nenhuma dessas obras narra os seus sentimentos, as suas angústias, as suas alegrias, o medo que tantas vezes as assaltava, a saudade que as corroía, as dúvidas que por vezes as intimidavam, o sentimento de culpa pelos insucessos, o entusiasmo ou o desânimo, e muitos outros sentimentos que as assoberbavam no dia a dia de dura labuta, em terra ou no ar, na Metrópole, em Angola, Moçambique ou Guiné, ou ainda sobrevoando o Atlântico nas longas evacuações de feridos. O que passaram, que caminhos trilharam, os riscos que correram, o que viram e tudo a que assistiram, ao serviço da Força Aérea! Era tudo isso que pretendiam contar, num livro.

Também nenhuma dessas obras descreve o que arrastou cada uma delas para aquela “aventura”; ou o que sentiram ao entrar num mundo exclusivo dos homens, ou como a ele se adaptaram; ou o que custou, a quem nunca tinha sequer estado junto a um avião, saltar dele em voo, utilizando um paraquedas que lhe colocaram nas costas, prometendo-lhe que ele ia abrir “de certeza absoluta”. Nenhuma dessas obras refere o que, passados tantos anos, cada uma delas pensa do que foi servir na Força Aérea como enfermeira paraquedista e o que “isso” significou depois ao longo das suas vidas.

É tudo isto ─ não apenas as suas memórias, mas também os sentimentos que então as acompanharam ─ e muito mais, que quiseram expressar num livro, para deixar às gerações futuras.

Decidiram por isso que, em vez de darem o seu contributo para a elaboração de livros de outros, deveriam tomar a iniciativa de serem elas próprias a escrever num livro a forma como desempenharam a sua profissão num ambiente tão diferente do tradicional, que incluiu mesmo o de guerra. E que, para aquelas que tenham filhos e netos (e depois virão os bisnetos e …), isso seria uma forma ─ a melhor e mais perdurável ─ de lhes dar a conhecer algo de um período crítico da História do seu País, mas também de eles saberem que tinham tido uma avó (bisavó, trisavó, …) que contribuíra para essa mesma História andando na guerra, nas missões mais arriscadas, em África (ainda para mais como voluntária!), onde tinha passado as “passas do Algarve”, mas também usufruído de bons momentos…

No livro procuraram articular as suas memórias dos acontecimentos ou factos que viveram ou que testemunharam, ao longo daquele tempo. Uns são dramáticos, por vezes mesmo trágicos; outros são divertidos, se não mesmo cómicos; outros respeitam ao dia a dia no trabalho normal ou à forma como passavam os momentos de ócio; outros relatam a forma como conviviam num ambiente quase exclusivamente masculino, outros evidenciam a camaradagem e a amizade que estabeleceram com aqueles com quem trabalharam; outros focam o relacionamento com as populações; outros referem situações cheias de humanismo a que assistiram, sobretudo referentes aos feridos e às suas famílias. E tanta coisa mais que tinham para contar!

Uma obra que dará certamente uma panorâmica realista da actividade das nossas enfermeiras paraquedistas ao serviço da Força Aérea.

O livro, que tem como aliciante um prefácio escrito pelo Sr. Professor Adriano Moreira, será apresentado no auditório do Estado-Maior da Força Aérea, em Alfragide, pelas 18H00 do próximo dia 26 de Novembro.




quinta-feira, 13 de novembro de 2014

P569: EM ALCOBAÇA, NO PASSADO DIA 8 DE NOVEMBRO



JERO APRESENTOU O SEU NOVO LIVRO

Reproduzido do “Cister”, semanário de referência nos concelhos de Alcobaça e Nazaré, 
com a devida vénia ao semanário e a Joaquim Paulo, que escreveu


José Eduardo Reis de Oliveira, mais conhecido por JERO, apresentou este sábado [8NOV] o livro sobre a "Família Coelho", no Armazém das Artes.


Perante dezenas de familiares, o autor mereceu diversos elogios pela sua intensa atividade literária. Madalena Tavares, que apresentou a obra de genealogia, frisou que JERO "não sendo historiador, é das pessoas que mais tem contribuído para escrever a história de Alcobaça", salientando que o livro resultou de "um trabalho de pesquisa exaustivo".

"Eu jamais me atreveria a fazer um trabalho destes sem uma  aplicação informática, que sei que o José Eduardo não tinha", salientou.


O arquiteto Manuel da Bernarda, o primeiro elemento da família dos Coelhos a obter o grau de licenciatura, também teceu elogios ao primo, notando que é graças a pessoas como o JERO que a história se escreve. "Há uma memória da terra e somos testemunhos vivos. A história passa depressa, a memória dura 60, 70 e se não for contada fica muito mais difícil escrever a história".

O livro "Família Coelho" tem 575 páginas e identifica 357 pessoas.


Incluímos aqui um texto lido numa rádio de Alcobaça, onde o nosso camarigo JERO 
foi entrevistado na manhã da apresentação do seu livro:


"O mais recente e muito volumoso trabalho do jornalista / escritor, homem de olhares e de memórias que gosta de passar ao papel: para que conste, para que se eternizem. E um livro é isso: um registo eterno. José Eduardo Reis de Oliveira conta histórias, relata factos, fala de pessoas. E são muitas as que constam nesta obra cujo nome abarca em 575 páginas, 357 membros da "Família Coelho".

Retrato de seis gerações em sete ramos Moleiros/ artistas do ferro/ "bombistas" /republicanos/ donas de casa/ mães de família /desportistas/ maestros / artistas / políticos / comerciantes/ empresários / médicos / arquitectos /excêntricos/ Maus feitios /gente anónima/ notáveis / pobres / ricos/ gente boa  "Os Coelhos".

Nesta obra de Genealogia, o JERO estafou-se em pesquisas, esfalfou-se em trabalho, tanto que até a ele próprio faz confusão ter conseguido chegar ao fim. Não foi só a ele. Eu mesma me senti confusa ao tomar conhecimento de tão numerosa família.    

Ancorado no avô "Porraditas" o José Eduardo desenrolou um novelo de descendentes cuja memória permanecerá neste livro "A Família Coelho" da qual é digno representante o meu convidado de hoje.

Bem-vindo José Eduardo Reis de Oliveira."



segunda-feira, 10 de novembro de 2014

P567: HOMENAGEM A UM CAMARADA QUE PARTIU

Texto da autoria do nosso camarada António Martins de Matos, TGen Pilav Ref (ex-Tenente Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74), com data de 9 de Outubro de 2014, publicado no blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné" e por nós aqui reproduzido, com a devida vénia ao António Matos e à Tabanca Grande.


Caros amigos

Ainda há poucos dias nos despedimos do “Blé” (Cororonel Bessa Azevedo, piloto de Fiat na Guiné em 1973) e já outro amigo nos deixou, o Carrondo Leitão, piloto de helicópteros na Guiné entre 71 e 73.
Das muitas outras“ estórias” em que foi o protagonista destaco a seguinte:

Guiné, dia 4 Outubro 73, uma parelha de Fiat-G-91 sai às 6 da manhã para dar apoio algures, o meu avião é o 5409, ao entrar na aeronave o mecânico diz-me que o painel das metralhadoras não inspira confiança, está rachado.
Sendo as metralhadoras completamente inúteis, já que qualquer árvore ou monte de baga-baga é protecção mais que eficaz contra as balas 12.7, ainda por cima o painel com rachas, …, chegando ao local do pedido de apoio de fogo apenas largo as bombas.

Às 6:50 estou de regresso a Bissau, a partir desse momento fico em funções de “alerta”.

Pelas 9 horas sai uma nova parelha de aviões numa missão planeada, vai fazer um ataque na zona do Tancroal, um pouco a norte do Olossato, os pilotos são o Coronel Comandante da Zona Aérea e o Capitão Roxo da Cruz.

Às 9:30 soa a sirene de “Alerta aos Fiats”, não espero pelo outro piloto de alerta, rapidamente entro num dos G-91 que se encontra na placa e descolo, no rádio dizem-me para me dirigir ao Tancroal, um piloto de Fiat-G91 ter-se-à ejectado.

Chegado à área vejo um dos G-91 da parelha a circular e, no chão, os destroços de uma aeronave, o Cap. Cruz tinha-se ejectado. Por falta de combustível o avião da parelha acidentada acaba por abandonar o local, fico sozinho a circular na zona, esperando ver algum “flare” que indique a posição do piloto e algum helicóptero que o possa recuperar.

Ao fim de alguns minutos ouço no rádio que dois ALIII estão em aproximação, um de transporte pilotado por um “periquito” e um heli-canhão com o Carrondo Leitão aos comandos.
Vou-lhes dando as indicações necessárias para se dirigirem ao local, ao chegarem dizem-me que avistam os destroços, logo depois o paraquedas do piloto, passados alguns momentos e lá no meio do arvoredo, avistam o Cap. Cruz.

A partir desse momento o Carrondo Leitão toma conta das operações, fica a circular com o heli-canhão enquanto o “periquito” vai descer e recuperar o piloto, só que…. o local é um buraco entre árvores, de muito difícil acesso. Decisão rápida, trocam-se as posições, o heli de transporte finge ser o canhão e fica a circular, enquanto o outro passa a fazer de transporte e desce ao buraco.

A descida até foi bem, o atirador lá foi buscar o Cap. Cruz, vinha combalido mas inteiro. O problema foi a saída, ao aplicarem motor para tentar sair do buraco, com a deslocação de ar provocada pelo rotor, as copas das árvores fechavam-se, tornando o espaço de pequeno a diminuto. E foi assim que o “periquito”, a circular por cima da clareira acabou por ter um papel decisivo, ao dar indicações ao Carrondo Leitão:
- “Dois metros para a esquerda! Alto! Um metro para trás, agora para a direita!! Pára, mais um metro para a esquerda, ……!!!.”

Esta conversação terá durado não mais que um minuto mas, para mim, foi como se levasse horas, finalmente lá saíram do buraco e puderam rumar a Bissau.

Para terminar a “estória”… O avião do Cap. Cruz era o mesmo 5409 do painel rachado, quando resolveu imitar o número 1 da formação e utilizar as metralhadoras, logo o painel saltou, tornando o avião incontrolável. Mais tarde alguém no topo da hierarquia tentou fazer crer que teria havido uma sabotagem, chegando mesmo ao desplante de acusar os mecânicos, nada mais estúpido e que nos deixou a todos deveras envergonhados, se havia gente leal, cumpridora e acima de qualquer suspeita eram aqueles homens que nos preparavam as aeronaves.
Uma verificação posterior concluiu haver outras aeronaves nas mesmas más condições, painéis rachados e canos das armas em péssimo estado! Não foi nenhuma novidade, estávamos fartos de ver e saber que havia quem, em vez de efectuar rajadas de 4 segundos como vinha no manual, gastasse todas as 800 munições num só passe de metralhadoras…..
Por isso os painéis rachavam!!!

António Martins de Matos
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domingo, 9 de novembro de 2014

P566: FUGINDO À CARÊNCIA HABITUAL...


FARTOTE DE LEGUMES

Quando deambulava pelos aquartelamentos espalhados pela Guiné, nas minhas missões, tive oportunidade de verificar as condições difíceis em que viviam muitos dos nossos militares, nomeadamente no que dizia respeito à alimentação.

Na verdade, devido às dificuldades de abastecimento de géneros, mais visíveis nos aquartelamentos mais isolados, a alimentação falhava com bastante frequência, quer na quantidade quer na qualidade.

Essa situação era agravada nos locais que não dispunham de pista ou que, por acção do inimigo, tinham visíveis dificuldades no reabastecimento por via aérea ou mesmo por via terrestre.

Assim, o "prato do dia" em muitos sítios era sistematicamente repetido, geralmente com base no arroz ou massas e enlatados e algum produto produzido localmente, mas muitas vezes com visível falta de frescos para acompanhar a refeição.

Tive a oportunidade de verificar isso pessoalmente em diversos locais onde, por força do apoio a operações, permanecia durante todo o dia, juntamente com as tripulações de alerta às evacuações.

Lembro-me que, em determinada altura, devido ao sistema de rotação com as minhas colegas, dia sim dia não "abancava" no aquartelamento de Cufar onde, sistematicamente, ao almoço nos era servido esparguete com ovo estrelado, salsichas e mortadela (das enlatadas). Poder-se-ia dizer que não era tão mau como isso, mas não se pode considerar adequada uma alimentação que, por ser repetitiva, se tornava enjoativa, acrescida da falta de frescos para equilibrar a ementa.

Outra situação particular vivi-a num aquartelamento no norte da Guiné que apenas dispunha de um heliporto improvisado; após a nossa aterragem, logo pela manhã, muito amavelmente perguntaram-nos se queriamos beber alguma coisa. Para evitar penalizá-los pedi-lhes um simples copo de água. Disseram-me que água não tinham no momento, que tinham que a ir buscar longe. Só se fosse whisky ou Martini...

Pelo contrário, outro local em que muitas vezes permanecíamos, no sul, dispunha de bastante água, não costumando ali faltar os frescos. No decorrer de uma operação em que ali parámos um par de horas, numa visita às hortas que ali havia tive a oportunidade de gabar ao seu responsável a qualidade dos legumes ali produzidos.

No momento em que nos preparávamos para descolar tive a surpresa de ver o tal responsável pelas hortas dirigir-se-me, trazendo-me simpaticamente dois sacos volumosos, um com alfaces, outro com couves. Embora com os meus protestos, pois eles precisariam mais daqueles frescos do que eu, acabei por embarcar o material que tão generosamente nos tinha sido oferecido.

O nosso destino era Guileje, onde tive igualmente a oportunidade de passar bastantes dias de alerta. Pela experiência anterior, sabia das limitações de Guileje no que dizia respeito à água e aos frescos, pelo que, lá chegados, foi com satisfação que ofereci os sacos com os legumes que tinha trazido comigo. E o facto é que de imediato alguém tratou de dar destino àquele "petisco" caído do céu. E ao almoço, que partilharam com a tripulação, foi possível distribuir, por um dia, um "rancho melhorado" a quem, devido às carências existentes, há já uns tempos que não metia o dente nuns legumes tão frescos e tão apetitosos.
                                                      Giselda Pessoa
Nota: A foto 1 foi cedida pelo Gil Moutinho, na foto (os nossos agradecimentos). As fotos 2, 3 e 4 aqui reproduzidas destinam-se essencialmente a enquadrar o texto, não estando directamente relacionadas com os eventos descritos. Reproduzidas de "Luís  Graça & Camaradas da  Guiné", com a devida vénia.


domingo, 2 de novembro de 2014

P561: REVISTA "KARAS" DE OUTUBRO


Este número da revista "Karas" foi feito com recurso a fotos disponibilizadas pelo
Miguel Pessoa e pelo Paulo Moreno,
Por mútuo acordo considerou-se desnecessário identificar a proveniência das mesmas.


sábado, 1 de novembro de 2014

P560: OS NOSSOS CONVÍVIOS

O 40º ENCONTRO JÁ FOI!


AGORA, PREPAREM-SE PARA O 41º ENCONTRO,

SIMULTANEAMENTE O NOSSO ALMOÇO ANTECIPADO DE NATAL


RESERVEM A DATA DE 28 DE NOVEMBRO!