sábado, 18 de fevereiro de 2012

P189: SABOTAGENS...

Detectado no decorrer de um dos últimos convívios... Sem mais comentários...

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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

P187: CONVERSAS DO MAJOR ALVERCA E DO ALMIRANTE VERMELHO - 2


EXTRACTO DA CORRESPONDÊNCIA ENTRE

O MAJOR ALVERCA E O ALMIRANTE VERMELHO

BANALIDADES MÉDICAS...

                 Caro Almirante Vermelho

Tenho seguido com curiosidade as histórias ultimamente narradas na tabanca-mãe (vulgo Tabanca Grande) envolvendo médicos que prestaram serviço na distante Guiné nas longínquas décadas de 60 e 70 do século passado. Um parêntesis para lhe confessar que a frase anterior me deixou um pouco deprimido pois senti-me como que tendo estado envolvido em episódios que remontam ao período jurássico. E, embora também os haja lá por Sesimbra, esta última apreciação faz-me de imediato lembrar a Lourinhã e os seus dinossauros, sendo um dos mais famosos da zona o nosso companheiro Luís Graça, um viajante destemido que à custa das suas permanentes deambulações já poderia/deveria ter escrito um guia para viajantes iniciados.

Bom, com isto tudo desviei-me do tema que tinha escolhido para conversar consigo – os nossos médicos. Isso traz-me de imediato à memória o médico que apoiou a minha evacuação quando mandei um malho em plena mata guineense. Não interessa aqui referir-lhe o nome pois isso não iria influenciar minimamente a história, mas recordo que depois de umas vinte horas sem ter ninguém com quem conversar e assolado por um grande desconforto quanto à incerteza do meu futuro, já tinha os platinados a falhar e deveria apresentar um comportamento algo bizarro, para não dizer pior. Vai daí, quando me viu o nosso doutor resolveu disponibilizar-me uns goles de um frasco de Coramina líquida que trazia no seu kit. Depois de vinte horas sem beber nada e apesar de anteriormente dessedentado pelos camaradas FT, continuava com uma grande sedinha e despejei um bom trago do referido frasco… O  facto é que fiquei com uma passada que ninguém me parava! Só me calei quando me apresentaram a conta do tratamento no HM 241… (EhEh! Estava a brincar, que o tratamento ficou por conta do Estado…)

Curiosamente cerca de um ano depois voltei ao HM 241 por ter detectado, uma de cada lado da coluna, na área lombar, duas massas que me deixaram preocupado, pois pelo tamanho e localização receava que na sequência da ejecção brutal que tinha sofrido pudesse ter deslocado algumas peças de estimação por efeito da aceleração a que tinha estado sujeito... Tranquilizou-me o médico dizendo que os objectos detectados não faziam parte da minha estrutura original, sendo simplesmente dois quistos sebáceos sem perigo de maior. O facto é que aindo cá os tenho, que sou uma pessoa muito poupada, mas das duas uma: ou eles estão mais pequenos ou estão mais protegidos pela massa corporal que se foi acumulando à volta…

E por hoje fico por aqui aproveitando, em jeito de despedida, para lhe apresentar os meus cordiais cumprimentos

Major Alverca


Caro e distinto Major Alverca

Perdido no mar revolto do meu computador, lá encontrei a sua distinta missiva escrita há longos meses .

Estivesse o nosso relacionamento em fase mais conturbada e Vossa Senhoria já me teria enviado insultos, ofensas e mesmo coléricos ultrajes em resposta ao meu silêncio. Ainda bem que ultrapassamos essa fase mais quente e com a chegada do frio e do espírito natalício a calma e a correcção caiu sobre nós!

Sabemos ambos das guerras que travámos pois quando Vª. Exª. largava as suas bombas, logo as minhas canhoeiras respondiam com condizente metralha.

Peço-lhe perdão por ignorar o seu parágrafo que diz respeito aos dinossáurios, mas é assunto que não domino e relembrar-me o período jurássico faz-me sentir alguma mágoa de tempos bons que passaram e não voltam mais!

Li com muita atenção os seus queixumes, os seus desconfortos, a sua solidão, os falhanços nos seus platinados, a Coramina e o aparecimento dos tais objectos estranhos no seu corpo diagnosticados como quistos sebáceos!

Vamos por partes não sem antes de lhe dizer que tive de convocar os sábios que comigo vão privando dado que a latitude da sua carta abarcava assuntos tão variados e de áreas tão específicas que nem a minha intelectualidade, internacionalmente reconhecida, sabia responder.

1, Esses gajos da Força aérea eram uns privilegiados! Sentiu-se desconfortável e sozinho no mato e só lá passou umas horas? Tadinho do menino!. Levasse uma revista de Sudoku, umas palavras cruzadas uma Penthouse  ou mesmo a Playboy, isto para não falar em gira discos onde ouvisse umas óperas, ou treinasse a ler Lobo Antunes ou Saramago que era o que a tropa macaca mais evoluída fazia quando diariamente dormia no mato! No mínimo dos mínimos um livrinho da distinta  colecção “Livros RTP” essa tão útil oferta que fizeram pelo Natal à tropa e à milícia. Diga lá a esse aviador que nós nas emboscadas líamos D.Francisco Manuel de Melo, MIGUEL de Unamuno ( não lhe diz nada este nome?), Fernando PESSOA ( e este, também não?), Vitorino Nemésio e Goethe, o preferido da milícia!

E saíram de rompante o Crocodilo de Mata Cães mais o Tigre do Cumbijã!

 2. Foi mais simpático o Agostinho dos leitões que nos explicou que o falhanço das superfícies de contacto intermitente de certos interruptores automáticos de corrente eléctrica revestidos de uma liga metálica, vulgarmente conhecidos por platinados, não era de grande importância pois a consequência mais gravosa era a queda abundante de cabelo, o que realmente lhe aconteceu senhor Major, mas, que lhe sirva de consolo, o tal dos leitões terá tido avaria mais grave que a sua.
 
3. De mui difícil análise e discussão de dias foi a problemática “Coramina versus Quistos sebáceos”! Cada médico dizia a sua e ninguém se entendia. Havia até um, cá para mim era delegado sindical dos senhores doutores, que estava sempre a resmungar:” Aquele gajo destrói um avião por andar a fazer acrobacias, é tratado á “borliu”  e ainda vem para aqui gozar com os custos dos tratamentos, isto é com os nossos impostos? Desculpem kamaradas, mas não kero nada com este kavalheiro!"

A discussão continuou por mais quarenta horas até que eu tive uma ideia brilhante:

 “Vou chamar o furriel miliciano enfermeiro Oliveira da C.Caç.675” e é para já!"

Corri com os doutores e reuni–me, de imediato, com um homem habituado à guerra da Guiné e á escrita, que logo me avisou, mal eu lhe colocara o problema: isto é assunto sério, portanto nada de clubismos nem de piadinhas nem de intimidades e afivelou um ar grave e sisudo que eu não lhe conhecia.

Entoou o “Quem passa por Alcobaça”, para aclarar a voz e quando eu me preparava, em resposta, para cantar como sinal de boas vindas “O Hino de Buarcos”, fui de imediato ameaçado com um seco "toma nota ou vou-me embora”! Não querem ver este gajo!

"Tenho de acabar de fazer uns licores para uns frades do mosteiro que bebem como o caraças e de mostrar o Convento ao meu neto!"

Logo me concentrei e o nosso douto JERO  começa de enfiada e passo a citar: “CORAMINA ( C10H14N2O) é uma substância derivada do ácido nicotínico utilizado como estimulante cardíaco e respiratório!
Se o Major Alverca bebeu tal líquido em quantidade superior á aconselhável tinha que ter consequências, mas as massas de que ele fala não são nenhuns quistos sebáceos!"

"O que o sr. Major Alverca tem, não são nem mais nem menos do que duas bolas de tabaco provocadas pela solidificação do tal ácido nicotínico. Diz-lhe da minha parte que se não preocupe pois as bolas vão encolhendo com a idade e este encolhimento não tem nada a ver com o que ele chama de crescimento da sua massa corporal. Aqui para a gente, que ninguém nos ouve, o sr. Major está muito mais magro! Creio que está em dieta rigorosa, disse eu, e já perdeu perto de catorze gramas."

Despedi-me do Camarigo Jero com um forte abraço, tão forte como o que lhe envio meu caro Sr. Major Alverca.

Almirante Vermelho